Levantamento Batimétrico em Área de Fundo Móvel: Estudo em Paranaguá
Autores
1Cunha, A.G.; 2Brando, P.; 3Cunha, T.; 4Alves, D.
1MICROARS Email: geraldo.cunha@microars.com.br
2MICROARS Email: pedro.brando@microars.com.br
3MICROARS Email: tarcisio.cunha@microars.com.br
4MICROARS Email: dannilo.alves@microars.com.br
Resumo
Introdução. O presente estudo aborda questões relacionadas com a determinação da superfície marinha em zonas onde a morfologia do fundo apresenta padrões de transporte de sedimentos compatível com ondas de areia móveis. Este fenômeno foi observado em levantamento realizado em 2017 no canal de acesso ao Porto de Paranaguá, especificamente áreas Alfa e Bravo. A dinâmica do piso marinho produz profundidades batimétricas diferentes para cada ponto da superfície quando ela é recoberta, sendo as diferenças tanto mais sensíveis quanto maior for o tempo entre a cobertura e a recobertura. O estudo foi realizado com o principal objetivo de caracterizar o comportamento do piso marinho para a segurança da navegação em uma área sujeita a dinâmica de fundo no Complexo Estuarino de Paranaguá. A partir desta caracterização é possível contribuir com sugestões para a análise dos levantamentos batimétricos realizados nestas e em áreas similares. Materiais e Métodos. Foi delimitada uma área quadrada de 200m de lado, propositadamente reduzida em extensão para que o levantamento possa ser completado num período de tempo que minimize os efeitos do deslocamento das feições do fundo. Sobre esta área foram realizados três levantamentos com ecobatímetro multifeixe em dias diferentes e cada levantamento seguiu as mesmas linhas de navegação. Os dias não foram consecutivos devido às condições de mar exigíveis para o sucesso do estudo, tendo sido realizados nos dias 03/JUL, 05/JUL e 06/JUL de 2016. Os levantamentos foram executados com recobertura e ensonificação completa e foram processados em conformidade com os padrões estabelecidos pela S-44 da OHI, obtendo-se Ordem Especial para cada um dos dias. Análises foram realizadas sobre as três coberturas batimétricas obtidas conforme três pontos de vista diferentes, a saber, comparação entre as imagens 2D de cada superfície, comparações dos dados processados em cortes transversais perpendiculares às linhas de navegação e comparações dos dados processados em cortes transversais perpendiculares à linha de crista das ondas de areia. Estas análises permitiram avaliar a velocidade de deslocamento das ondas de areia. Resultados. Cada uma das três superfícies, obtidas em dias diferentes, caracteriza um campo de ondas de areia. A análise conjunta das três superfícies caracteriza o deslocamento das feições. A análise dos cortes transversais perpendiculares às cristas das ondas permitiu estabelecer velocidades de deslocamento de 3cm/h (0,81m em 24h) e de 5cm/h (2,34m em 48h). Em consequência, quanto maior a separação temporal entre duas ensonificações da mesma área maior a discrepância entre as profundidades batimétricas obtidas. Conclusões. Recoberturas batimétricas em linhas de sondagem adjacentes ou em faixas de conexão entre subáreas adjacentes, produzem registros diferentes por causa da movimentação das feições do fundo e não por inconsistências do processo de aquisição dos dados, e as diferenças são associadas ao o tempo decorrido entre a ensonificação da cobertura e a da recobertura. A incerteza do fenômeno é distinta da incerteza do processo de medição e ambas as incertezas precisam ser tratadas separadamente. Os padrões estabelecidos pela S-44 são perfeitamente aplicáveis aos levantamentos hidrográficos que requerem Ordem Especial, realizados em áreas de morfologia de fundo dotadas de deslocamento. Os procedimentos de análise de levantamentos batimétricos em regiões de fundo móvel devem separar a alta incerteza própria da dinâmica de fundo da baixa incerteza própria da medição de boa qualidade. A segurança da navegação é perfeitamente atendida nestes casos pela adoção da superfície mínima determinada pela envoltória das cristas das ondas de areia.
Keywords
Batimetria Multifeixe; Morfodinâmica de Fundo; Incerteza Vertical Total