Produto MOD11A1 no estudo da proliferação do Aedes aegypti
Autores
1Lima, S.F.S.; 2Barrozo, L.V.
1UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Email: suelyfrancosiqueira@gmail.com
2UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Email: lija @usp.br
Resumo
O aumento exponencial de doenças transmitidas pelo Aedes aegypti tornou-se um problema de saúde pública, fazendo-se necessário buscar estratégias mais eficazes no combate a este vetor. Há um consenso de que não existe uma solução única em termos de estratégias e nem de geografia. Diversos autores sugerem que as autoridades sanitárias avaliem cada município para estabelecer estratégias de combate mais direcionadas e, portanto, mais eficazes. Dentre os muitos fatores que contribuem para a proliferação do mosquito, podemos destacar a temperatura. Analisando alguns estudos, observa-se que existem diferenças quanto à temperatura ótima para as diferentes fases do desenvolvimento do Aedes aegypti e que isso provavelmente está relacionado ao tipo de uso do solo, aos regimes pluviométricos e à característica sócio econômica da população. Neste sentido, o estudo da temperatura que caracterize risco de proliferação do mosquito Aedes aegypti para cada bairro ou região de um município é essencial para oferecer parâmetros mais precisos que subsidiem ações para o controle e prevenção das doenças transmitidas por este vetor. Entretanto, a escassez de estações meteorológicas é um problema frequente em diversas regiões, além da limitação do alcance das medidas, que ficam restritas à área próxima à estação. A utilização de dados estimados por satélites tem se mostrado uma opção por permitir a observação de qualquer região do mundo, mas também apresenta limitações devido a presença de nuvens que impede a obtenção de dados da superfície. Assim, este trabalho teve por objetivo investigar a viabilidade do uso do produto MOD11A1 (dado de temperatura de superfície com resolução espacial de 1 km e temporal de 1 dia) no estudo da proliferação do Aedes aegypti em escala local. A análise foi realizada para o distrito Campo Limpo do município de São Paulo – SP, nos anos de 2010, 2011 e 2012. A metodologia constituiu em selecionar para cada ano, as SE com casos notificados e o produto MOD11A1 com datas retroativas ao primeiro dia de cada SE selecionada. Isso para considerar o tempo de desenvolvimento do Aedes aegypti (as fases de ovo-larva-adulto), o período de incubação do vírus da doença (Dengue) no mosquito, o período de incubação do vírus no organismo do homem e o período para o indivíduo procurar o médico, realizar o exame e ocorrer a notificação. Assim, considerando o prazo mínimo foi retroagido 22 dias e o prazo máximo 36 dias estabelecendo-se esse intervalo de tempo para a aquisição de dados de temperatura de superfície referentes a cada SE. Após a aquisição e tratamento das imagens, foi obtido pelo ArcGis, a moda de temperatura do polígono que representa o distrito Campo Limpo para cada data do intervalo estudado e calculada a mediana da moda deste intervalo para correlacionar com o nº de casos notificados de dengue. Para as SE estudadas foram analisadas 459 imagens e, destas, 70% não apresentava dados de temperatura devido à presença de nuvens. Isso para o estudo da proliferação do Aedes aegypti é um fator limitante, pois o aumento deste vetor ocorre justamente no período chuvoso. Contudo, todos os intervalos de tempo das SE estudadas possuíam alguma imagem com dados de temperatura permitindo alguma análise. Para a análise da coerência entre os dados de temperatura de superfície com a proliferação do Aedes aegypti, foram gerados gráficos para cada ano estudado. Para o ano de 2010, observa-se que em temperatura de superfície acima de 40°C ocorre notificação de poucos casos e conforme a temperatura baixa para 40°C e se mantém, ocorre aumento de casos notificado. Conforme a temperatura vai baixando, os números de casos também baixam, mostrando uma coerência. Porém, as SE 17 e 18, não se mostram dentro deste padrão, fazendo-se necessária uma análise mais detalhada juntamente com outras variáveis, por exemplo, a pluviosidade. No ano de 2011, também mostra coerência entre temperatura de superfície e número de casos notificados. Como no ano anterior, com temperaturas acima de 40°C ocorre notificação de poucos casos, 40°C se mostra favorável ao aumento de casos e abaixo de 31°C torna-se desfavorável, apesar de a SE 26 apresentar temperatura de superfície igual a 28°C e possuir casos notificados. Este gráfico também evidencia que o range de temperatura favorável varia entre 40°C e 34°C, o que não se observa no gráfico anterior. Para o ano de 2012, observa-se uma drástica redução de números de casos notificados e as temperaturas se mantêm próximas às temperaturas apresentadas nos anos anteriores. As causas deste evento teriam que ser estudadas, por exemplo, a pluviosidade, medidas de prevenção e ou estratégias mais direcionadas no combate ao vetor neste distrito para este ano. Entretanto, além da redução dos casos e de as temperaturas se manterem entre 40° e 26° C, também não há a coerência esperada entre as variáveis, por exemplo, as SE 8, 12 e 19, com casos notificados em temperaturas de 31°, 26°, 29°C respectivamente. Além da necessidade de se inserir na análise outros fatores que poderiam auxiliar a explicar alguns eventos explicitados nos gráficos, também temos que levar em conta o tempo de vida do mosquito. Considerando que um mosquito tem como tempo de vida 30 dias, por exemplo, a SE 8 de 2012, apresenta um caso, que poderia estar relacionado com a semana anterior (7), que apresentou temperatura de 40°C e poderia ter se manifestado na semana 8, que por ter temperatura não favorável, por sua vez não contribuiu para o aumento de caso na SE seguinte (9). A mesma explicação pode ser dada para as semanas 12 e 19, mas isso teria que ser estudado para uma conclusão mais efetiva. Os resultados evidenciaram que apesar da limitação dos dados de temperatura de superfície pelas nuvens, o produto MOD11A1 se apresenta como uma boa opção para subsidiar os estudos sobre a proliferação do Aedes aegypti, principalmente em municípios que não possuem estações meteorológicas.
Keywords
Aedes aegypti; Produto MOD11A1; Vigilância entomológica